Equipa de vereação PS

Equipa de vereação do Partido Socialista Caldas da Rainha:
Jorge Sobral, Filomena Cabeça, Manuel Remédios, António Ferreira, Helena Arroz, João Jales e Rui Correia
Vereadores eleitos para o mandato 2013/2017: Rui Correia (Ind) Jorge Sobral (PS)

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Uma nota pessoal de despedida

Concluem-se neste mês de Outubro de 2017, oito anos desde que tomei posse como vereador da Câmara Municipal das Caldas da Rainha. Foi-me concedida a oportunidade de lutar por uma liderança política que, em determinado momento da minha vida, se me revelou natural e necessário perseguir. Quando me apresentei aos militantes do partido socialista para disputar as eleições de 2013, fiz questão de mencionar com toda a clareza ao que vinha: sublinhar o carácter democrático da minha eleição como candidato a presidente de câmara em resultado de uma disputa leal e cívica com outros militantes que se sentissem igualmente preparados e responsabilizados para desempenhar tal função. Fui sufragado por eleições directas dentro do partido socialista, num processo eleitoral transparente e exemplar, de que ainda hoje muito me orgulho. Ser visto fora do partido como um socialista e dentro dele como um independente revelou-se sempre uma frivolidade intelectual mas que, reconheço, sempre produziu equívocos curiais. A equidistância entre uma indomável, e muitas vezes inconveniente, pulsão de liberdade e a responsabilidade de protagonizar um ideário político histórico e definido, foi sempre resolvida com simplicidade, recorrendo constantemente a um sentido de urgência realista e pragmática que aprendi sempre com aqueles meus concidadãos que, materialmente, pouco ou nada têm. Uma simplicidade complexa, de resto, que sempre conduz o meu pensamento, na linha da tal "ética prática" de que fala Singer.

Ao longo destes oito anos a minha actuação como vereador ficou registada, com exigente constância, em suporte escrito telemático que publiquei durante ambos os mandatos. O histórico da minha prática como vereador foi sempre tornado público e procurei nunca tomar qualquer posição sem o detalhado escrutínio das minhas motivações e fundamentos. Muitas vezes, dizem, detalhado em demasia. Considero que mais do que arengar sobre transparência é imperativo agir de forma ética, pelo exemplo e não pela formulação académica de uma qualquer convicção moral e política.
Pude, a tempo e horas, fundamentar devidamente as razões que me levaram a rejeitar quaisquer convites para a continuação da minha actividade política local. Não as repetirei aqui.

Já me foi proporcionado também o ensejo de proceder aos balanços do que foi feito pela vereação do partido socialista durantes estes dois mandatos. Por esse motivo também não os recordarei. Intimamente ambiciono que, mesmo quando não concordando comigo, seja pelos meus pares políticos reconhecida a seriedade da minha acção e a candura dos meus entusiasmos. Nunca alimentei motivações ulteriores ou opacas e nenhuma conversa permiti que denegrisse adversários políticos. Orgulho-me de ter em todos os partidos interlocutores sinceros que conhecem a minha escrupulosa lealdade. Da bondade ou desaire da minha acção concluirá a história, na sua habitual e potente circunspecção.

De algo, porém, estou seguro. Faço um balanço optimista da minha passagem por este cargo de tão grande responsabilidade, porque sei que a vida e o metabolismo desta autarquia, dentro tanto quanto fora dela, é radicalmente diferente daquele que encontrei quando aqui cheguei em 2009. Secretamente, espero ter contribuído para essa indispensável atmosfera de cordialidade e de desembaraço que possam ter-nos a todos permitido resolver um vasto número de problemas que se colocaram aos nossos fregueses.

Ninguém é campeão do amor pelas Caldas, repeti-o muitas vezes em campanha. De resto, nesse sentido particular, nem adversários somos. Comovemo-nos juntos, rimo-nos muitíssimo (é incrível o grau de surrealismo que pode envolver a acção de um vereador), revoltámo-nos contida ou excessivamente, mas ajudámo-nos sempre, apoiámo-nos quando precisámos uns dos outros, nunca regateámos um ombro ou uma palavra de encorajamento, em momento algum se permitiu que a veemência política se confundisse com malevolência ou torpeza. De resto, nestes oito anos atravessei os dois mais dolorosos momentos da minha vida e não esquecerei a solidariedade que me foi tão generosa e atentamente prestada por vós. Mantivemos um nível de sentido de função pública de que devemos orgulhar-nos. Pensamos diferente, mas neste último mandato soubemos respeitar e dignificar essas diferenças.

Estou muito grato a todos os cidadãos caldenses que me entregaram esta responsabilidade, muito grato ao partido socialista por ter em mim confiado e nunca ter tido para comigo qualquer desatenção ou falta de cuidado, muito grato aos meus colegas vereadores pelos seus ensinamentos e autêntica amizade de que sempre beneficiei, muito grato a todos os meus companheiros de mandato autárquico, sociais democratas, centristas, comunistas e bloquistas, independentes e socialistas, muitos deles por mim trazidos para a política pela primeira vez, que em todas as freguesias deram o seu melhor para iluminar a vida dos seus vizinhos; muito agradecido, enfim, a todos os funcionários desta Câmara Municipal das Caldas da Rainha que todos os dias pugnam por uma melhoria dos seus serviços em favor da população caldense.

Permitam-me que transmita uma palavra especial ao Jorge Sobral a quem as Caldas da Rainha tanto, mas tanto devem, pelo seu inquebrantável espírito crítico, inteligência, cultura, tacto e humor, factores que a todos tornaram muito mais simples e leve esta tarefa de fazer com que a vida lá fora não seja tão dura e injusta como é.

Não ignoro que serviram estes mandatos, e infelizmente, para confirmar que existe também todo um universo paralelo pernicioso que ondula subterrâneo, freático e poderoso, e que activamente desdenha o progresso e mina o desenvolvimento. Interesses pessoais, corporativos, sociais e sectaristas, interiores e exteriores às lógicas partidárias que dilaceram, zelosos e conjurados, quaisquer benevolências e genuínas devoções de um público bem-fazer.

Pela minha parte, cioso da máxima pela qual ninguém deve perenizar-se em cargos de poder, recolho-me aos ensinamentos deixados por um exímio ser humano que foi também um grande e singular presidente da república, Manuel Teixeira Gomes que, em determinado momento da sua vida, retirava-se da coisa pública, deixando-nos algumas palavras curtas e certeiras que aqui se recordam:

"A política longe de me oferecer encantos ou compensações converteu-se para mim, talvez por exagerada sensibilidade minha, num sacrifício inglório. Dia a dia, vejo desfolhar, de uma imaginária jarra de cristal, as minhas ilusões políticas. Sinto uma necessidade porventura fisiológica, de voltar às minhas preferências, às minhas cadeiras e aos meus livros."

A política como ilusão ou como desilusão, privilégio ou sortilégio, depende meramente da estatura da nossa dimensão ética. Um exame íntimo e quotidiano. Saibamos nós sempre merecer a responsabilidade que nos é cometida pelos nossos cidadãos e estar à altura das ambições dos nossos filhos.

É este sucesso pessoal, familiar, profissional e cívico que, com a maior humildade, a todos vos desejo e endereço.

Rui Correia