Após análise detalhada do relatório apresentado pela ACCCRO acerca da sua proposta de manutenção da abertura ao trânsito da Rua Heróis da Grande Guerra, o vereador Rui Correia manifestou a opinião de que, não obstante se tratar de um estudo excessivamente empírico e fundamentado num universo de inquiridos necessariamente parcial, o relatório constitui uma contribuição bem-vinda para a indispensável ponderação deste assunto.
Considera o vereador, contudo, que este relatório contraria abertamente a posição, a um tempo aparentemente consensualizada, pela qual a abertura ao trânsito se faria a título temporário - apenas durante as obras de regeneração urbana. Pretende-se agora que esta abertura se faça com carácter definitivo.
O vereador Rui Correia considera que já muitos milhares de euros se investiram nesta rua para a tornar prioritariamente pedonal. O seu piso e a sua organização foram objecto de estudos tendo em vista uma utilização pedonal com a óbvia excepção das cargas e descargas.
As consequências desta reversão parecem, a priori, muito nefastas. Numa cidade que se pretende saudável, onde se prepara um plano municipal de ciclovias, se instalam parques e equipamentos para o exercício infantil e sénior, uma terra onde são numerosas as iniciativas de sucesso que apontam para o estímulo de uma vida activa e de actividade física, voltar atrás neste conceito que pretende estimular a segurança, saúde, tranquilidade, qualidade do ar, convívio pedonal e diminuição do trânsito automóvel na frequência de um espaço nobre da cidade, seria de esperar que se compreendesse que estas vantagens trazem, reconhecidamente trazem, a médio prazo um incremento da qualidade de vida citadina num conceito que vem sendo seguido crescentemente em todo o mundo.
De igual modo, o mapa de ruído resultante de um piso que foi pensado para limitar o trânsito rodoviário, ilustrará igualmente os efeitos negativos desta reversão.
Acompanhamos, pois, as teses que apontam para uma gradual humanização e o uso activo dos espaços exteriores. E isso passa também por uma valorização e incremento das áreas pedonais e de convívio sem automóvel.
Contesta-se abertamente a ideia pela qual os clientes não possuam espaços de estacionamento que lhes permitam continuar a frequentar os mesmos estabelecimentos de comércio local. Os investimentos milionários feitos recentemente nos parques de estacionamento que se situam em três locais, cada um deles dentro ou a 50, 100 metros do centro histórico e comercial das Caldas da Rainha, não permite concluir que exista risco de diminuição de clientela por essa razão. Não podemos continuar a permitir como civicamente aceitável que as pessoas queiram estacionar os seus automóveis a um ou dois metros dos lugares onde pretendem deslocar-se. Essa é uma das razões por que temos nesta cidade um entranhado hábito de estacionamento em segunda e terceira fila.
Não acreditamos, pois, na melhoria da qualidade do espaço público com a reintrodução do trânsito automóvel no centro histórico das Caldas da Rainha.
O maior risco do comércio local não é esse. O fim do termalismo, o fim da indústria, uma deplorável ausência de cultura urbanística e o recente advento é grandes superfícies comerciais dentro e fora das Caldas da Rainha constituem, reconhecidamente, os adversários mais influentes do comércio local.
De resto, é indesmentível que os comerciantes das Caldas da Rainha só não têm como adversário um novo centro comercial na cidade porque a crise financeira adiou a construção de uma grande superfície. Não é, acto contínuo, de excluir que um retorno aos níveis de consumo interno anteriores à crise possa acarretar para Caldas da Rainha uma séria ameaça ao comércio tradicional.
São as heranças de uma gestão política e urbanística local profundamente errada e que nos conduziu a esta depressão económica urbanística e identitária em que vivem as Caldas da Rainha. É o seu legado. O pior é que este legado e esta realidade dão prejuízo a toda a gente e continuam. Nenhum plano de mobilidade está a ser feito.
Continuamos a não dar forma nem sentido ao conjunto da cidade. Não existem fluxos de continuidade de trajectos (é impossível hoje criar um corredor pedonal ou por ciclovia que ligue o hospital à estação ferroviária, entre outros exemplos), não se investe determinadamente numa cultura de expansão de transportes públicos, não se dá qualquer prioridade aos conceitos contemporâneos de mobilidade.
Hoje fecha-se uma rua ao trânsito, amanhã abre-se a mesma rua ao trânsito numa gestão circunstancial e errática. Ruas há nesta cidade que têm marcados em pedra estacionamentos automóveis em diagonais contrárias ao sentido rodoviário da rua. Nesta matéria muito é feito ao sabor de conveniências imediatas. Nenhuma visão de futuro sustenta as decisões colectivas.
É indesmentível que esta cidade continua a ter o mesmo eixo Norte/Sul que teve desde que se fazia a ligação tradicional rodoviária Lisboa Porto, passando por aqui. E que essa ligação não tem hoje alternativa. E que essa ligação, esse eixo estruturante é a Rua Heróis da Grande Guerra; e que o comércio tem prejuízo porque esta maioria psd semeou ventos e impõe-nos hoje colher esta tempestade. Sabia-se como, sabia-se inevitável mas não se fez trabalho de casa. O resultado está à vista.
Consideradas todas estas reflexões, o vereador manifesta-se contra a reabertura ao trânsito da Rua Heróis da Grande Guerra.
Considera, em todo o caso, que a inexistência de um plano de mobilidade que crie alternativas aos cidadãos representa uma negligência grave e antiga desta maioria psd e que trouxe as consequências que hoje sentimos.
Foi apresentada uma proposta para o encerramento desta rua aos Sábados, das 9:00 às 14:00. A proposta foi aprovada com duas abstenções. Embora concordando com o encerramento, mesmo que para já parcial, desta rua, até que esteja elaborado o plano de mobilidade da cidade das Caldas da Rainha, o vereador absteve-se nesta votação por este encerramento não constituir um passo inicial para tornar a rua prioritariamente pedonal, garantindo a automobilistas, comerciantes e peões alternativas seguras e eficientes de mobilidade citadina.